Os Conselhos de Administração ocupam uma posição estratégica na governança corporativa, sendo responsáveis por nortear as decisões mais relevantes das organizações, aprovar investimentos estruturantes e exercer fiscalização sobre a atuação da diretoria executiva. Quando exercem suas funções com seriedade, independência e competência técnica, contribuem significativamente para a sustentabilidade e o crescimento de longo prazo da empresa, garantindo coerência entre missão, visão e prática.
No entanto, em algumas organizações, observa-se que os Conselhos são instituídos apenas para cumprir exigências estatutárias, assumindo uma postura meramente simbólica e sem efetiva participação nas decisões corporativas. Nesses casos, há uma preocupante ausência de análise crítica dos riscos, acompanhamento estratégico e diálogo construtivo com a gestão executiva, o que compromete a governança e pode resultar em estagnação, perda de competitividade ou até colapsos institucionais.
É particularmente delicada a situação em que o Conselho se reduz a um mero órgão homologatório — um “cartório de assinaturas” —, aprovando projetos sem o devido escrutínio, muitas vezes motivado por vínculos pessoais ou conveniências. A falta de questionamento estratégico e de intervenções tempestivas impede correções de rota e pode gerar impactos severos nos resultados organizacionais.
Além disso, um equívoco frequente está na nomeação de profissionais renomados apenas pela reputação adquirida em grandes empresas. Embora experiência seja um ativo valioso, ela não pode substituir o engajamento real com os desafios atuais da organização. Conselheiros eficazes devem estar atualizados, sensíveis às transformações do mercado e às dinâmicas geopolíticas contemporâneas, e dispostos a participar ativamente da construção de soluções, assumindo a responsabilidade que o cargo exige.
Um Conselho de Administração verdadeiramente funcional é composto por membros independentes, tecnicamente preparados, com visões complementares e alinhados ao propósito institucional. Em tempos de complexidade e disrupção, o papel do Conselho torna-se ainda mais relevante — é nele que devem nascer as decisões que garantirão a perenidade, a resiliência e o impacto positivo das organizações.
Hélio Mendes – Palestrante, consultor empresarial e político, autor dos livros Planejamento Estratégico Reverso e Gestão Reversa. Possui formação como Conselheiro pelo IBGC e atuou como Secretário de Planejamento e Meio Ambiente em Uberlândia/MG.