Para que o país deixe de ser apenas a “fazenda do mundo” e passe a ocupar o papel de indústria global, é imprescindível agregar valor à produção. Isso exige a superação de diversos obstáculos e a adoção de uma ética não idealizada, mas realista. Alguns já tentaram essa transição, contudo, utilizaram modelos inadequados, iniciando processos de industrialização ou exportação com uma mentalidade ainda centrada na cultura de commodities.
Atualmente, há boas associações e cooperativas no setor agropecuário, porém, ainda predomina a lógica da porteira para dentro. Embora existam raras exceções, esse já representa um avanço. No entanto, para competir no mercado internacional com produtos acabados — o que ainda é pouco comum —, é fundamental promover uma mudança cultural profunda ou criar novos empreendimentos com uma mentalidade distinta, seja no país ou no exterior.
Esses novos negócios com foco global adotam, comprovadamente, práticas de gestão diferenciadas. Trata-se de uma ética relativa, onde o lucro é o propósito central. Os discursos sobre meio ambiente e diversidade, amplamente utilizados por grandes corporações internacionais, frequentemente funcionam como distrações. Esse paradoxo é evidente ao se analisar os países de origem dessas empresas, que muitas vezes não praticam o que recomendam.
A cadeia da pecuária, por exemplo, tem feito várias tentativas de internacionalização, inclusive com a exportação de animais vivos. A iniciativa é válida, mas tende ao insucesso se não houver mudança de cultura, exigindo a adoção de modelos significativamente distintos dos praticados há décadas.
O agronegócio brasileiro pode — e precisa — agregar valor para atender às demandas globais e alcançar maior rentabilidade. O caminho para setores verdadeiramente globais requer, inevitavelmente, mudança de mentalidade. Um exemplo bem-sucedido é o de alguns frigoríficos nacionais que incorporaram práticas de gestão típicas de empresas globais. Caso contrário, não haverá sustentação no longo prazo.
Hélio Mendes – Palestrante, consultor empresarial e político, autor dos livros Planejamento Estratégico Reverso e Gestão Reversa. Possui formação como Conselheiro pelo IBGC e atuou como Secretário de Planejamento e Meio Ambiente em Uberlândia/MG.