Em muitos setores da economia, é comum observar reclamações de que um elo da cadeia produtiva se beneficia mais que outro. Um exemplo recorrente é o da pecuária em comparação com os frigoríficos. Aqui, nossa análise é puramente empresarial, sem defender nenhum setor.
Antes, ao analisar uma empresa, focávamos apenas na estrutura do setor e na posição relativa da empresa dentro dele, considerando as regras de competição e fontes de vantagem competitiva. Contudo, com a globalização, o avanço da inteligência artificial e as novas dinâmicas geopolíticas, esses fatores passaram a sobrepor a economia tradicional. Esse novo cenário altera exponencialmente o perfil da competição, exigindo estudos mais amplos e conhecimentos que transcendam o setor específico e até a cadeia produtiva.
No caso da cadeia produtiva da carne bovina, os frigoríficos compreenderam que, para se manterem competitivos, precisavam se organizar e expandir. Essa é uma estratégia que os demais elos da cadeia precisarão seguir. Qualquer setor com alta rentabilidade tende a se concentrar, o que representa um desafio para a gestão de pequenas e médias empresas em todos os setores.
Esse fenômeno é especialmente evidente em commodities, como soja, cana, carne e café, que sustentam a economia nacional. Nesses setores, a gestão tem priorizado a eficiência operacional, com pouca ou nenhuma ênfase no desenvolvimento de um posicionamento estratégico com visão global.
Dado o volume e importância dessas commodities, será essencial que esses setores busquem escala ou atendam nichos que não interessam às grandes corporações, estabelecendo posições competitivas únicas e sustentáveis. Esse processo exige profissionalização e, no Brasil, passa por uma mudança de cultura e mentalidade. No entanto, poucas empresas conseguirão se adaptar a essa nova realidade organizacional, na qual até os maiores gurus da administração enfrentam dificuldades em rever suas teorias.
Hélio Mendes é autor de “Planejamento Estratégico Reverso” e “Marketing Político Ético”. Ele atua como consultor de empresas e já foi secretário de planejamento e meio ambiente na cidade de Uberlândia/MG. É palestrante em cursos de pós-graduação e na Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra, membro do Instituto SAGRES – Política e Gestão Estratégica Aplicada, em Brasília.