O monitoramento dos desdobramentos das eleições americanas precisa ir além da posse presidencial e se estender por todo o mandato. Há razões sólidas para uma análise técnica cuidadosa sobre o impacto deste evento no cenário global, dado o surgimento de novos atores e tecnologias que deixaram de ser apenas ferramentas e agora moldam o comportamento humano e, de forma drástica, o mundo corporativo. Esse novo contexto global não permite mais análises tradicionais e profundas; estamos, de fato, em um território dominado por especulações, especialmente diante do perfil imprevisível de figuras como Donald Trump.
Dada a posição estratégica dos Estados Unidos na geopolítica mundial, o perfil capitalista de Trump – empresário com um discurso e práticas genuinamente voltadas ao mercado – sugere que sua gestão busque, a todo custo, favorecer o povo americano e suas empresas. Com uma economia americana desafiada e competindo acirradamente com a China, é esperado que seu governo adote uma abordagem agressiva para promover os interesses nacionais americanos como nunca antes visto.
Independentemente da orientação política dos países que se relacionam com os Estados Unidos, seja de direita ou de esquerda, é preciso encarar a realidade: esses países não devem esperar vantagens ou concessões. Os Estados Unidos jogam para vencer, e seu foco está, indubitavelmente, em manter a América no topo. Esse é um compromisso firme de “América em primeiro lugar”, que deverá permear todas as decisões estratégicas americanas nos próximos anos.
No Brasil, observa-se uma elite que, ao contrário dos americanos, não compartilha um sentimento de patriotismo profundo. A falta de um projeto nacional e um Congresso que reflete pouco os anseios populares nos colocam como um país à deriva. Esse cenário exige, mais do que nunca, que o Brasil se preocupe com seu próprio destino, em vez de esperar que alguma intervenção externa nos salve. É essencial que comecemos a traçar um caminho de autonomia e fortalecimento, reduzindo a dependência de atores internacionais e assumindo um papel mais proativo no tabuleiro global.
Hélio Mendes é autor de “Planejamento Estratégico Reverso” e “Marketing Político Ético”. Ele atua como consultor de empresas e já foi secretário de planejamento e meio ambiente na cidade de Uberlândia/MG. É palestrante em cursos de pós-graduação e na Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra, e associado do Instituto SAGRES – Política e Gestão Estratégica Aplicada, em Brasília.